Antes de mais gostava de lavrar o meu protesto contra a burocracia necessária para participar neste blogue. Já há serviços públicos mais simples que esta coisa. Mas não são de agora as minhas queixas sobre este animal que vi nascer.
Peço desculpa aos colegas mas andei sem tempo para me coçar onde dá prazer, pelo que perdi posts e conversas, textos e piadas que estou a tentar recuperar. Da mesma maneira estou em atraso de publicação e partilha de diversas coisas minhas. Por isso aqui vai:
O meu blogue em nome próprio, meio abandonado por esta altura: O Paralógico de Picoas
Deste blogue destaco as minhas (supostas) micronarrativas: aqui.
Um blogue (tendencialmente) de humor onde assino como “grande” em parceria com um amigo e que também tem estado ao deus-dará: Grande coisa!
Deste blogue, já com cinco anos, destaco um texto que apesar de extenso resume dentro de uma mesma temática, parte do trabalho dos dois últimos anos e parte de uma rotina de stand-up: aqui. Aconselho os espíritos mais sensíveis a lerem outra coisa...
Foi também deste blogue que retirei a maioria do material para o texto de apresentação aquando da inscrição no curso que se segue:
Da perfeição
Ela era perfeita para ele. Mas ele não acredita na perfeição.
Dos dias
Pôs o açúcar no cinzeiro, mexeu o café com o cigarro, engoliu o isqueiro e saiu apressado pela porta da arrecadação. O dia nem estava a começar muito mal...
Da cabeça
Virou a cabeça para um lado e só viu pó e pedras. Virou a cabeça para o outro lado e só viu pó e pedras. Olhou para cima e viu a terra distante. Concluiu que andava novamente com a cabeça na lua.
Do bar, o menos
Ele olhou-a gulosamente, enquanto ela perguntava o que queria ele para beber. Ele bebia-lhe os seios, quando disse que a queria beber a ela. Ela provocou-o, corrigindo-o: a mim não, ao meu corpo. Ele foi pungente: não é o teu corpo que eu quero, mas sim a tua alma; e penetrou-lhe os olhos. Ela desculpou-se, mas já tem a alma encomendada a um santinho da devoção de sua mãe. Ele ficou desiludido: sendo assim, é só o corpo. Só depois do expediente, disse ela. Nesse caso, pode ser um café com pantufas.
Dos microrrevolucionários
Um revolucionário perde sempre, pelo menos, um pouco do seu ímpeto, quando compra casa com um crédito à habitação por 80 anos. E a verdade é que, ao primeiro filho, torna-se sempre conservador. E ao segundo, um reaccionário. Ao terceiro filho, é um herói. E ao quarto, um mártir. Ao quinto, é um louco. Mais de cinco é sempre um homem pobre. E sete, é fanatismo. Oito, é descontrolo hormonal. Nove é um caso de polícia. E finalmente, dez ou mais, é preciso ter cuidado, porque o homem é de certeza, um revolucionário perigoso.
Das piadas ou a comédia autofágica
A sua pessoa era uma piada de mau gosto, a sua existência uma anedota e a sua vida sexual uma gargalhada – tornou-se comediante.
Só fazia piadas sobre piadas. E só as piadas se riam.
Era daqueles que tinha a mania de pedir piadas emprestadas e nunca as devolvia. Um dia lixaram-no. Em vez de uma piada deram-lhe uma anedota batida.
Era um artesão da comédia – só fazia piadas por medida.
Tinha sempre uma piada na manga. Um dia descobriram e mataram-no – não gostavam de batoteiros.
Pegava no bloco de piadas e numa caneta, sentava-se na sanita e escrevia, escrevia... Eram piadas de merda, mas quando acabava sentia-se mais aliviado.
Quando teve a ideia, riram-se dele. Quando montou a fábrica, riram-se dele. Quando começou a vender as piadas embaladas no vácuo, para se rirem, tiveram de pagar.
Era um comediante maniqueísta – dividia as pessoas em dois tipos: os que se riam das suas piadas e os que não tinham sentido de humor.
Só aceitava comediantes com piadas muito secas no seu bar. Estava convencido que assim os clientes bebiam mais.
Também no Grande coisa! vou publicar alguns textos que fiz no âmbito do curso.
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