O sketch dos equipamentos era mais ou menos pensado assim.
Conversa banal, normalinha, e depois não era bem o que se pensava.
Mais ou menos isto, mas em bola.
O Mário está no café a ler o jornal. Esteve no jardim das Amoreiras estudar planos e ângulos para o Rodolfo. Agora faz tempo.
O Jorge a uma esquina, espreita. Anda para trás e para a frente em passo lento. Chuta uma pedra, aborrecido. Volta a espreitar.
Do cimo do hotel Amazónia, espreita o vulto do Miguel vestido de preto, dois traços negros debaixo dos olhos.
A Sonia anda ás voltas pelo bairro à procura de lugar para o carro sem saber ainda se valerá a pena parar.
O Gui passa na Artilharia I. Nostálgico, de lágrima teimosa a querer cair, entra na Travessa.
O João andou da Baixa até ali, sem pensar muito no assunto. Está agora perto da porta do Hotel e entra no lobby. O Gui reconhece-o e segue-o.
O Jorge apercebe-se do movimento e avança em passos rápidos, ansioso.
O Miguel desce pela parede do hotel em rappel invertido.
O Francisco, o Tiago e o Erick resolvem "passar por lá, só para ver que se passa".
A Sónia e o Mário entram, descontraídos.
Sentado num dos sofás, porque não desconfiou que tivesse acabado, está o João Piedade. Ao lado, uma resma de trabalhos de casa feitos.
Chego eu, ainda sem saber muito bem se sim, se não, afinal que estou aqui a fazer, isto não tinha acabado? Ah, está cá toda a gente. Não estou (tão) senil.
Não acabou, pois não. O lobby passou só a ser aqui no charco de humor para doze (uma onda ao Jaime) do Sapo.
PS - De qualquer maneira vou ter de me ocupar amanhã por esta hora ou corro o risco de aparecer por ali.
E sim, é mais uma reclamação: a distância de segurança entre as pessoas. A distância civilizada de segurança, quero dizer. Quantas vezes é respeitada em filas? A pé ou de carro, é indiferente.
Aprende-se no Dirty Dancing "this is my dancing space, and this is your dancing space". Considerando que nem toda a população aprendeu em pequeno a não estar em cima das pessoas, e grande parte não viu o dirty Dancing, tenta-se dar a entender. Olha-se pelo canto do olho, reviram-se os olhos, arrisca-se um "Importa-se?". O resultado é geralmente nulo.
Meia Lisboa deve saber o meu código MB e que filmes vejo no cinema. Ultimamente adoptei o "Conhecemos este/a senhor/a?" que alterno com o "olha, cresceu-me/te) uma pessoa nas costas". Tem resultado. Mais alternativas? Dá para desenvolver e entrar na série?
É do café, hoje estou assim. Prevejo mais pela tarde fora. À chegada de almoço, é frequente os grupos de almoço cruzarem-se nos torniquetes das portas. Há dois em cada. Quando há a sorte de se reunirem seres civilizados, os que saem usam um, os que entram, o outro. Mas isso, meus amigos, é tão dificil de acontecer... Assim, é diário o embaraço e a atrapalhação. O corre-corre a ver se chegam primeiro para não terem de esperar e ainda o "quero lá saber, pús o cartão primeiro, passo eu!". Achamos que saímos do liceu, mas não. Voltamos constantemente a esse tempo inconsequente. Também acontece nos corredores (que me fazem sentir dentro do "Starwars", às vezes podia jurar que oiço a Marcha Imperial) um grupo em vez de fazer fila, vir em "barreira", obrigando-nos a quase nos espalmarmos contra as paredes para passarem. Tudo isto para partilhar convosco os delírios que me servem de escape. Hoje vinha com uma amiga e em direcção contrária, seis ou sete pessoas em magote. Lá nos encolhemos para que passassem (nem resmungando, nem falando alto percebem, já tentei, trust me). Imaginei que bloqueávamos o corredor. De que forma? Pondo-nos aos saltos de um lado para o outro no mesmo metro quadrado, a cantar "e esta m**** é toda nosssa, allez, allez!" Pronto, divirto-me assim: a imaginar as caras a ver-nos, de saltos, argolas e malas a saltar e a boicotar a passagem para almoço. E pensei: "Com quem vale a pena partilhar isto? Com os 12!" (já contando com a Fátima que não sei se o Jaime cá virá). Dava alguma coisa? Anyone...?
Antes de mais preciso de dizer que também eu não sendo mãe ainda, gosto de bebés pequerruchos, cor-de-rosa, de chucha ou beicinho. Arriscaria que gosto mais que muitos dos espécimes que vou descrever, mas isso como tudo, é discutível. Acrescento ainda que é uma observação diária e por isso, um tema a desenvolver. Uma tese, quem sabe...
Intro: eu não sei se o metropolitano de Lisboa é uma fonte inesgotável de textos humorísticos (dramáticos até). Sei (ou nem isso, julgo) que é uma pelo menos uma bica e que só tentando rir sobrevivo ao dia-a-dia, sobe que sobe, puxa e empurra que para ali vai. Segue uma das possíveis descrições: Desço as escadas da estação e começa. Vejo o ringue a gare. O público os passageiros. Vou chegar ao fim, sei que vou. Respiro fundo e avanço. Sou Ali em Kinshasa, rumble in the jungle. Gente e mais gente. Que corre e se empurra. "Vêm mais depois deste, senhores, para que correm?" arrisco. Não querem saber, têm de caber nas nesgas que encontrarem. Mande-se vir um homem-calçadeira de Tóquio que os faça entrar todos. Mais uma senhora encaixando-se entre as cincos pessoas que já vão de biqueira do sapato à beira do abismo. Ela, carteira e saco. Todos no pedacinho minúsculo que ali havia ainda e lhes dava esperança de vida para além do esmagamento da porta. Ouve-se o apito. Três vezes, como o carteiro, as portas vão fechar. Há os resistentes que insistem e esbarram diariamente com a borracha e o metal. Depois, num lapso facial, mostram que "não faz mal, eu nem queria ir neste" ou "Aah, estava quase, não acredito". Não estava nada quase, mas é preciso manter a dignidade já de si quase nula. Espero então o próximo. Chega e entramos, sou Ali e saltito para não ser pisada - float like a butterfly - mas o rival investe e insiste. A certa altura entro no jogo, levo e dou encontrões e pisadelas - sting like a bee. Não vejo Frazier, mas sinto-me igualmente na selva. Vou chegar lá, sei que sim. Saio na próxima. Sinto-me agora Rocky. Arrasto-me e à mala por entre sacos, corpos, cheiro a cebola. Tomar banho é cada vez mais um direito a que alguns renunciam. E não é um statement, antes fosse. Não custou mais ao Rocky puxar a carroça na neve, que a mim o corpo por este festim de odores, maus tecidos, sapatos cambados e cabelos deslavados. Enquanto os ultrapasso - que é uma ilusão julgar que toda a gente percebe que "com licença" implica que se afaste para deixar passar - vejo-me Rocky desviando-se da carne morta. Esta que evito só não está em ganchos. Tem os pés no chão, mas parece igualmente inanimada. Vejo a saída, finalmente. Mais um obstáculo: uma multidão afunila-se na porta. Querem entrar sem deixar sair. Grito enquanto sou arrastada de volta para dentro "se sairmos, torna-se mais fácil entraaaaar". Ignoram-me, correm já à procura de um lugar que possam roubar a quem, por invalidez, seja mais lento. Faço de novo o caminho da saída e escapo enfim. Imagino lá dentro sobrolhos lancetados de tão inchados que estavam e não deixavam ver. Há agora um corredor a percorrer e um ror de gente com a mesma desenvoltura que os que deixei para trás... Todos se apressam (há mais, tantos mais depois do que já apita lá ao fundo, senhores), correm, atropelam-se, sacos contra as pernas do vizinho. Está implícito que não se pede desculpa nem se chama a atenção. É um acordo entre todos certamente, porque o comportamento é padrão. Aparentemente, faltei nesse dia. Volto a Kinshasa e já oiço "Ali Bum ba yea... Ali Bum ba yea... Ali Bum ba yea". Agradeço o apoio mas não os posso matar todos, faria estardalhaço. O pelotão de fuzilamento está encomendado, mas tarda. Além disso, não tenho tempo. Saltito em cor-de-rosa com tanta calma quanta me é permitida. Chego ao segundo comboio. Nova volta, nova viagem. Há jornais gratuitos espalhados pelo chão. Rocky uma vez mais. Agora no jogging por Filadélfia. Respiro fundo, inspiro, expiro, estou quase a chegar ao fim. Camisola de carapuço e mãos ligadas, continuo. Alguém tem o telefone com mp3 a tocar para toda a carruagem. Inspiro, expiro, cada vez mais rápido. Meia carruagem em fúria. Outra meia, indiferente. Ninguém fala. Inspiro, expiro. Saltito e treino ganchos e directos imaginários. Estamos a chegar. Na estação final, novos atropelos. Agora já sou um pugilista profissional, desvio-me de tudo e todos agilmente, o meu jogo de pés ao passar o torniquete é digno de Cassius Clay. Nasce um campeão em mim. Mas não morrerei no final. Viro Jack La Motta, touro enraivecido, na hora de sair para a luz da manhã. Já no meu destino gritarei do alto das escadas, punhos erguidos e ainda saltitando: "Draagooooo!!!!"
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